Mais más notícias para os pecuaristas, embora demorem anos para afetar sua atividade: uma degustação de especialistas concluiu que não podemos distinguir entre o sabor da carne sintética e o da carne real. Aliás, no Uruguai, um país essencialmente pecuário, as respostas das organizações públicas e privadas especializadas são negacionistas. Parece difícil frear o desenvolvimento desse tipo de produção, cuja maior dificuldade até o momento não é científica, mas sim econômica e de custos. Seria aconselhável começar a adotar a tecnologia necessária, sem abandonar – é claro – a metodologia de criação natural.
O teste do frango:
Agora parece que os seres humanos somos incapazes de diferenciar o sabor da carne cultivada da carne real. Pelo menos essa é a conclusão do resultado de uma degustação às cegas com três renomados ‘gourmets’ israelenses, um deles “provador profissional e jurado do ‘MasterChef'”, de acordo com o que relata a revista Time.
Os juízes dessa degustação às cegas, realizada diante de um tabelião — nem mesmo o cozinheiro sabia qual carne era qual —, não conseguiram distinguir o frango cultivado do frango real, cozinhado exatamente da mesma forma e sem aditivos de nenhum tipo, nem mesmo sal. Na verdade, o frango foi apenas salteado em óleo de girassol.
A degustação foi feita com frango moído, o que proporcionava uma textura idêntica. O frango utilizado no teste — cultivado pela empresa israelense SuperMeat — é uma carne totalmente magra, pois ainda não é cultivada com gordura. Os juízes apontaram que ambas as amostras — rotuladas como A e B — não tinham muito sabor, algo esperado, pois eram de peito de frango. Sem pele e sem temperos, o peito de frango não é muito saboroso, mas ainda assim tem gosto de frango.
Um dos juízes — o chef e proprietário de restaurantes israelense Yair Yosefi — conseguiu detectar uma diferença entre as duas carnes, mas admitiu que não era capaz de dizer qual era o frango real e qual era o cultivado em laboratório.
Yosefi pensou que talvez o frango de granja fosse a amostra B, mas a jurada do MasterChef — Michal Ansky — achou que era justamente o contrário, porque a B tinha menos sabor que a A. A resposta correta: a B era o frango real. Um inseguro Yosefi acertou por acaso. Ansky errou, embora estivesse totalmente convencida de que a amostra A era o frango cultivado.
Ansky ficou feliz por estar errada. Segundo ela, a migração para a carne cultivada é inevitável, pois a produção global atual é insustentável. Agora, resta apenas aperfeiçoá-la e poder comprar uma costela bovina no supermercado, indistinguível de uma real. Impressa em 3D, com a espessura desejada, com sua gordura perfeitamente entremeada e com o sabor de capim e milho ao fundo.
Uma corrida pela carne cultivada perfeita:
Mas ainda há um longo caminho até esse santo graal. Ou até vermos um peito inteiro ou uma sobrecoxa de frango cultivada nas prateleiras dos supermercados. No máximo, algumas décadas, dizem alguns, mas ainda falta tempo. Antes disso, chegarão produtos como nuggets de frango ou carne moída bovina para almôndegas e hambúrgueres.
Israel — que parece estar na vanguarda desse tipo de desenvolvimento — tem várias startups competindo para criar a carne cultivada perfeita. Diferentemente das empresas norte-americanas como Beyond Meat ou Impossible Burger — que já vendem carne vegetal processada com proteínas que imitam o sabor do sangue, mas que ainda não se assemelham ao gosto da carne real —, empresas como SuperMeat ou Future Meats cultivam células musculares de animais, clonadas e montadas na fábrica. Elas não simulam carne. Biologicamente, é carne real cultivada em laboratório. Não um substituto. E a tecnologia está evoluindo em um ritmo assustador.
A primeira costela feita em 3D:
A outra grande barreira para a carne sintética, por enquanto, é o preço. O primeiro hambúrguer sintético estreou com um custo superior a 300.000 euros por unidade, mas o preço tem caído de forma constante e rápida. Quer gostemos ou não, a carne cultivada veio para ficar. E, em alguns anos, nem perceberemos que o Big Mac, a carne em geral ou a costela do churrasco não terão vindo de um animal abatido, mas sim de uma linha de produção totalmente eficiente e sem resíduos nocivos. O mesmo acontecerá com ovos e peixes.
A China continua pressionando os EUA em uma reedição da corrida espacial dos anos sessenta. Enquanto os norte-americanos acumulam atrasos e problemas, os asiáticos avançam cada vez mais rápido. Trata-se de uma espécie de repetição da corrida pelo espaço e da chegada à Lua entre norte-americanos e soviéticos durante a Guerra Fria. Nesta segunda Guerra Fria, a questão se repete, mas desta vez os Estados Unidos parecem ter um adversário técnica e financeiramente mais sólido.
A corrida espacial dos anos 60 está sendo reeditada, com a China substituindo a Rússia como a grande potência rival dos EUA. Os norte-americanos previam chegar à Lua em 2025, mas uma série de atrasos e falhas nas novas naves que deveriam levá-los ao nosso satélite natural arruinaram suas previsões. Enquanto isso, Pequim acelera e se compromete a enviar humanos à Lua antes do final desta década.
As duas maiores economias do momento, China e EUA, já rivalizam militarmente e nos mercados para ampliar sua influência global. Agora, também competem em um antigo campo de batalha: a Lua.
O plano chinês: chegar antes de 2030
A China anunciou ontem várias novidades em seu jovem e poderoso programa espacial. Entre elas, destaca-se a intenção de enviar taikonautas (como são chamados seus astronautas) à Lua antes de 2030 e expandir sua moderna Estação Espacial, concluída em novembro passado. A China construiu a Tiangong depois de ser excluída da Estação Espacial Internacional devido à pressão dos EUA, que não viam com bons olhos os laços entre o programa espacial chinês e o Exército Popular de Libertação.
Segundo Lin Xiqiang, diretor adjunto da Agência Espacial Tripulada da China, o plano de Pequim começará com uma breve estadia na superfície lunar e “uma exploração conjunta entre humanos e robôs”. Além disso, Lin afirma que será adicionado um quarto módulo à Tiangong, que servirá de apoio a experimentos científicos e proporcionará melhores condições de trabalho e vida para a tripulação.
“Temos uma estação espacial humana completa próxima à Terra e um sistema de transporte humano de ida e volta”, disse Lin, destacando que o país já possui um processo de seleção, treinamento e suporte para novos astronautas. Com um cronograma de duas missões tripuladas por ano, as autoridades chinesas afirmam que esse ritmo é suficiente para atingir seus objetivos.
Esses objetivos incluem estabelecer uma base lunar permanente no Polo Sul do satélite antes da NASA. Pequim, inclusive, antecipou a construção dessa base para 2027, em vez de 2035, como originalmente planejado. Para alcançar essa meta, a China pretende substituir seu atual foguete Long March 9, totalmente descartável, por uma frota de foguetes reutilizáveis, semelhantes aos da SpaceX, de Elon Musk.
Wu Yanhua, outro diretor da agência espacial chinesa, justificou a aceleração do programa afirmando que querem “construir uma base sólida para o uso pacífico dos recursos lunares”. No entanto, essa movimentação também pode ser vista como uma resposta da China aos Acordos Artemis, propostos pela NASA a toda a comunidade internacional, incluindo China e Rússia.
Os Acordos Artemis estabelecem “um ambiente seguro e transparente que facilite a exploração, a ciência e as atividades comerciais para o benefício de toda a humanidade”. Esse acordo exige que todos os países signatários declarem suas políticas e planos de exploração do sistema solar, além da publicação de todos os dados científicos obtidos em missões espaciais – algo que Pequim não está disposta a aceitar.
EUA sofrem atrasos e enfrentam possíveis cortes
Os Estados Unidos impuseram a si mesmos um cronograma ambicioso, que pode ser difícil de cumprir. A NASA também escolheu o Polo Sul lunar como local para seu pouso, com previsão para o final de 2025.
A missão americana de retorno à Lua é chamada Artemis e conta com a colaboração de empresas como SpaceX, Boeing e Blue Origin. O programa prevê um gasto total de 93 bilhões de dólares entre os anos fiscais de 2012 e 2025, dos quais 23,8 bilhões já foram gastos apenas no foguete Space Launch System (SLS). Esse foguete conseguiu voar com sucesso após inúmeros atrasos, mas custou muito mais do que o previsto.
A outra grande peça do programa Artemis, o Starship da SpaceX, o foguete mais poderoso já construído, ainda não está pronto. Diferente do SLS, ele é reutilizável e pode alcançar não só a Lua, mas também Marte, como deseja Elon Musk. No entanto, um teste realizado em abril terminou em um grande incêndio após a explosão da nave.
Agora, a Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) interrompeu os lançamentos e está avaliando os danos causados pelo teste. A liberação para um novo lançamento pode levar meses. As consequências da explosão foram significativas, causando danos a propriedades e preocupando as autoridades aeroespaciais e de aviação dos EUA. Entretanto, com base na experiência anterior de Musk, ele acredita que estará pronto para um novo teste em breve – apesar da oposição de muitos ao seu método de tentativa e erro, característico da SpaceX.
Além dos desafios técnicos, o programa Artemis pode enfrentar problemas financeiros. O plano dos republicanos para reduzir o déficit orçamentário pode resultar em cortes significativos no orçamento da NASA, colocando em risco muitas de suas missões, segundo a publicação especializada Space Policy Online.
O administrador da NASA, Bill Nelson, alertou em março que esses cortes seriam “devastadores e potencialmente irrecuperáveis”, atrasando ou cancelando diversas missões. Nelson sugeriu que uma das opções seria “reestruturar significativamente ou até mesmo cancelar” partes do programa Artemis.
Nos próximos meses, veremos como essa disputa espacial entre China e Estados Unidos se desenrolará.