Desenvolvimento de robôs capazes de ver através de paredes e fumaça
Como funciona o PanoRadar desenvolvido na Universidade da Pensilvânia
Um grupo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia criou um robô chamado PanoRadar, que utiliza diversos sistemas para conseguir “enxergar” através das paredes.
Já está em andamento o trabalho para que, em algum momento no futuro, os robôs contem com uma visão sobre-humana, que lhes permita ver através de muros, fumaça, vidro, neblina e chuva intensa, entre outros.
Esse é o objetivo de um grupo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, recorrendo a um sistema chamado PanoRadar, que converte ondas de rádio em vistas tridimensionais detalhadas. Dessa forma, os robôs terão a capacidade de se mover com precisão em situações como missões de busca e resgate, onde sensores convencionais não funcionam.
A inspiração para essa invenção:
Geralmente, sensores, radares e outros desenvolvimentos semelhantes dependem da luz para visualizar o que está à frente. No entanto, a natureza mostra exemplos de que a visão não precisa estar limitada à luz. Por exemplo, tubarões detectam campos elétricos gerados pelo movimento de suas presas, enquanto morcegos usam os ecos das ondas sonoras para navegar.
Além da visão humana, as ondas de rádio podem atravessar certos materiais e penetrar na fumaça ou na neblina de maneira mais eficaz que as ondas de luz, devido ao seu comprimento de onda significativamente maior.
Visão 3D por meio de ondas de rádio:
PanoRadar é uma nova tecnologia projetada para resolver esse problema ao converter ondas de rádio básicas em imagens tridimensionais detalhadas do ambiente, proporcionando aos robôs uma visão sobre-humana.
O sensor PanoRadar funciona de forma semelhante a um farol, escaneando todo o horizonte ao varrer seu feixe em círculos. O sistema é composto por uma matriz vertical giratória de antenas que exploram seu entorno. Essas antenas emitem ondas de rádio e escutam seus reflexos no ambiente, como um farol que detecta navios e pontos de referência costeiros. No entanto, graças à capacidade da inteligência artificial incorporada (IA), o PanoRadar supera essa técnica de escaneamento básica, pois é capaz de combinar inteligentemente medições de todos os ângulos de rotação para melhorar a resolução das imagens.
Essa técnica de rotação produz uma densa rede de pontos de medição virtuais, o que permite ao PanoRadar alcançar uma resolução de imagem comparável à do LiDAR, embora o sensor em si custe apenas uma fração dos sistemas LiDAR tradicionais. Os LiDARs, radares a laser, são usados, por exemplo, em carros autônomos.
“Embora PanoRadar e LiDAR tenham o mesmo objetivo, que é detectar a presença e o volume de objetos distantes, cada um funciona de uma forma muito diferente, e com resultados igualmente muito distintos”, explica David Soto Sedano, Offer Global Director Healthcare & Insurance na fornecedora de soluções de TI Softtek. E detalha: “O LiDAR está muito difundido, a tal ponto que pode ser encontrado em iPhones; utiliza pontos de laser e pode ser encontrado em pedágios, em projetos de cartografia e topografia, entre outros casos. Por sua vez, o PanoRadar emprega ondas de rádio para criar imagens tridimensionais de alta resolução do ambiente. Essa tecnologia tem o potencial de revolucionar a percepção robótica ao poder ‘ver’ através de fumaça, neblina e superfícies refletivas como o vidro, superando assim algumas limitações do LiDAR”.
O executivo aponta que PanoRadar e LiDAR possuem forças complementares, “por isso é provável que ambas as tecnologias coexistam e sejam utilizadas de acordo com os requisitos específicos de cada aplicação”.
Segundo divulgado na imprensa internacional, entre os marcos mais difíceis superados pelos pesquisadores estava o desenvolvimento dos algoritmos para o PanoRadar, capazes de manter imagens de alta resolução mesmo quando o robô está em movimento.
“Outro desafio foi ensinar o sistema a interpretar ambientes internos complexos”, comentou um dos pesquisadores, e explicou que superaram esse problema treinando a IA para reconhecer padrões nos sinais de radar, de maneira semelhante à percepção humana.
Ao ser consultado sobre esse desenvolvimento, Lucas Jagodnik, CEO da empresa argentina de robótica Apelie Robotics, opina: “A IA já está se inserindo na robótica. Neste caso, é a combinação de radiofrequências e modelos treinados que permite alcançar toda uma percepção avançada do ambiente”.
Segundo explica o executivo, que há alguns meses se mudou para Atlanta, Estados Unidos, onde está a sede de sua startup de robôs aplicados a diferentes indústrias, “existem tecnologias como o sensoriamento a laser ou LiDAR, ou a visão por câmeras, mas podem falhar, seja porque há certas superfícies que refletem mais do que deveriam, como pode ocorrer com o laser, enquanto as câmeras também enfrentam dificuldades com condições de neblina, fumaça e escuridão, o que as torna limitadas também”.
O entrevistado menciona que a Apelie Robotics está trabalhando com tecnologias semelhantes às utilizadas em radares. “No Canadá, especificamente, temos robôs que estão em currais avícolas e servem para acalmar as aves, estimulá-las, medir suas condições mentais. Os agricultores realmente estão encantados porque nosso robô permite reduzir horas de trabalho nos currais. Há pouca oferta de mão de obra, então isso é vital. Além disso, estamos desenvolvendo um fazendeiro com inteligência artificial”, antecipa.
Outros casos de uso: carros autônomos e saúde:
Jagodnik menciona que essa tecnologia permite enxergar quando o olho humano e os sensores tradicionais não conseguem. “Isso abre um leque impressionante de aplicações que vão desde veículos autônomos, agricultura de precisão e até situações de segurança e defesa”, comenta e detalha: “Esses radares não são uma tecnologia nova, mas o que é revolucionário é como combinamos uma soma de dados com radares por meio da IA para melhorar a percepção e a predição”, afirma.
Por sua vez, Soto Sedano diz que o setor de saúde pode ser um dos mais impactados. “O PanoRadar poderia ser usado para monitorar os sinais vitais e os movimentos dos pacientes sem necessidade de sensores aderidos ao corpo, o que seria especialmente útil em unidades de terapia intensiva ou para pacientes com mobilidade reduzida. E se olharmos o que já está sendo feito com os robôs Da Vinci, poderia aumentar ainda mais a eficiência, já que a visão aprimorada que fornece poderia ajudar os cirurgiões a realizar procedimentos mais precisos, especialmente em condições de visibilidade limitada.”
Na mesma linha, em residências de idosos ou centros de reabilitação, o PanoRadar poderia detectar quedas ou movimentos anormais dos pacientes, permitindo uma resposta mais rápida da equipe médica.
E se formos para setores mais próximos da indústria, na construção civil e engenharia, essa tecnologia poderia ser usada para inspeções estruturais e mapeamento 3D de locais. “Na indústria manufatureira, melhoraria o controle de qualidade automatizado e a navegação de robôs nas fábricas. Além disso, no setor de segurança e vigilância, poderia fornecer cobertura de 360 graus com capacidade de detecção através de obstáculos, ideal para aeroportos, instalações militares e edifícios comerciais”, completa o executivo da Softtek.
De olho no futuro:
Os entrevistados acreditam que esse desenvolvimento é apenas um exemplo do poder da IA. “Acredito que estamos vivendo dias fascinantes porque as aplicações estão chegando às mãos de pessoas criativas ou de pessoas que têm certos problemas e sabem que podem resolvê-los com essa tecnologia. Inclusive, acho que estamos perto de um ponto de inflexão, onde começaremos a descobrir milhões de usos”, explica Jagodnik, que acredita que em cinco anos encontraremos um mundo absolutamente diferente do que conhecemos hoje.
Enquanto esse executivo acredita que as aplicações assistidas por inteligência artificial serão as primeiras a se popularizar rapidamente: “Eu acredito que de cinco a dez anos já teremos robôs participando ativamente da nossa sociedade, em nossas casas. Estamos no começo, mas é um caminho fascinante e acredito que está sendo muito bem recebido entre nossos clientes. E o mais notável, eu acho que tudo está sendo desenhado, pensado e construído por jovens argentinos. Pessoas que talvez nunca imaginaram que poderiam desenvolver robôs a partir da Argentina para o mundo”.
Por sua vez, Soto Sedano considera que a tecnologia PanoRadar poderia estar comercialmente disponível em cerca de 3 a 5 anos. “Embora o protótipo já esteja funcionando e os resultados sejam promissores, ainda há um caminho a percorrer e a tecnologia precisa de mais testes em ambientes reais, otimização de custos e, possivelmente, integração com outros sensores”, conclui.