Chegamos a um momento crítico em que a inação na educação e no desenvolvimento da força de trabalho pode custar muito caro para a economia global.
Esse desafio é intensificado por uma mudança significativa na forma como os jovens encaram o futuro.
É necessário um esforço global colaborativo para adaptar as habilidades da força de trabalho ao ritmo de evolução das indústrias.
Em uma era dominada pela inteligência artificial (IA), computação quântica e tecnologias sustentáveis, o diploma universitário tradicional de quatro anos já não é considerado garantia de sucesso profissional.
As evidências dessa transformação são contundentes. O relatório sobre o Futuro do Emprego do Fórum Econômico Mundial prevê que 65% das crianças que entram na escola primária hoje trabalharão em categorias de emprego que ainda não existem. Nos Estados Unidos, uma pesquisa da Gallup publicada pela Harvard Business Review em 2023 indicava um menor entusiasmo pelos diplomas tradicionais. Essa tendência é ainda mais acentuada na região da Ásia-Pacífico: na Malásia, por exemplo, muitos jovens aspiram à carreira de influenciador nas redes sociais, atraídos pela promessa de independência econômica e sucesso digital.
Para se adaptar a essa mudança, muitas empresas globais estão priorizando habilidades sobre diplomas no desenvolvimento de sua força de trabalho. Algumas iniciativas do setor, como o programa de aprendizagem do Google, dão prioridade à experiência prática, permitindo que participantes de diferentes origens concorram a cargos em empresas líderes, como Amazon e Microsoft.
No entanto, preparar-se para esse futuro exige mais do que habilidades técnicas: requer trabalhadores capazes de se adaptar culturalmente, com alta fluência digital e capacidade de aprendizado contínuo. O sistema educacional de Singapura oferece um modelo sólido para esse desenvolvimento, equilibrando formação técnica com habilidades interculturais. Os graduados se beneficiam de altas taxas de emprego e estão preparados para se destacar em um ambiente global.
Essa transformação destaca a necessidade de os sistemas educacionais evoluírem de acordo com as demandas do mercado de trabalho. Integrar habilidades de adaptabilidade, fluência digital e consciência intercultural nos currículos permitirá criar uma força de trabalho preparada para navegar por uma economia global interconectada e em rápida transformação.
Educação para a Quarta Revolução Industrial
À medida que a revolução digital transforma a economia mundial, fica claro que é fundamental adotar novos paradigmas educacionais para preencher a crescente lacuna de habilidades globais.
Desde o Vale do Silício, na Califórnia, até a emergente cena tecnológica da Nigéria, plataformas como TikTok e YouTube, além das indústrias impulsionadas por IA, criaram oportunidades que a educação tradicional dificilmente poderia abordar.
No Mali, na África Ocidental, a Kabakoo Academies usa tutores de IA e plataformas de redes sociais para melhorar as habilidades dos jovens, resultando em um aumento de 44% na renda dos participantes em um mercado onde mais de 80% do emprego é informal.
Da mesma forma, a Coreia do Sul está integrando a IA ao currículo nacional, com o objetivo de capacitar estudantes e professores com habilidades tecnológicas emergentes até 2025.
O modelo de formação dual alemão, que combina aprendizado prático e rigor acadêmico, tornou-se uma referência global no desenvolvimento da força de trabalho, com uma taxa de emprego de 92% entre os graduados.
Enquanto isso, o Ministério da Educação da Malásia planeja expandir sua iniciativa de salas de aula híbridas para mais 400 escolas até 2025, após pesquisas preliminares indicarem melhorias significativas nas taxas de empregabilidade.
A urgência da reforma educacional é universal
A taxa de desemprego juvenil na África do Sul permanece em torno de 30%, apesar da infraestrutura educacional do país. Isso ressalta a necessidade de uma combinação estratégica de conhecimentos técnicos, mentalidade empreendedora e consciência de desenvolvimento sustentável.
Na China, o aumento do desemprego juvenil provocou o surgimento do fenômeno “jovens de cauda podre” (rotten-tail kids), que se refere a jovens com diplomas universitários forçados a aceitar empregos mal remunerados ou a depender do sustento dos pais. Esse fenômeno reflete o desajuste entre os resultados educacionais e as demandas do mercado de trabalho, destacando a necessidade de reformas urgentes para fornecer habilidades relevantes para a economia atual.
Os governos estão adotando novas medidas para fomentar o desenvolvimento da força de trabalho. A Semana Nacional de Formação da Malásia oferece programas gratuitos para aprimorar habilidades em tecnologias verdes e inovação digital.
No Oriente Médio e Norte da África, a automação pode afetar até 52% dos empregos em países como o Catar, aumentando a urgência de reformar a força de trabalho. O programa Vision 2030 da Arábia Saudita, com um investimento de 6,4 bilhões de dólares em tecnologia e treinamento, e o Programa Nacional de Codificação dos Emirados Árabes Unidos, que visa treinar 100 mil programadores, destacam o compromisso da região em preencher a lacuna de habilidades.
Forjar alianças entre a indústria e a academia
A colaboração entre instituições acadêmicas e a indústria está deixando de ser uma boa prática para se tornar uma necessidade.
O programa de alianças globais da Quest International University na Malásia melhorou a empregabilidade dos graduados por meio de oportunidades de aprendizado experimental. Na Índia, os Indian Institutes of Technology (IIT) colaboram com empresas tecnológicas para criar centros de inovação, gerando intensa atividade de pesquisa e desenvolvimento.
No Reino Unido, as Early-Stage Prosperity Partnerships do Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC) unem universidades e empresas para enfrentar desafios como polímeros biodegradáveis e materiais aeroespaciais.
O objetivo dessas parcerias é integrar a educação teórica com a experiência prática, garantindo que os estudantes e acadêmicos estejam alinhados com as necessidades da indústria.
Coordenar a transformação global da educação
A transformação da educação deve ser inovadora e inclusiva. Embora as soluções digitais sejam promissoras, é fundamental garantir o acesso igualitário para todos os grupos socioeconômicos.
As principais prioridades devem incluir:
- Marcos regulatórios inclusivos que reconheçam caminhos de aprendizado alternativos e ofereçam suporte financeiro.
- Parcerias público-privadas para financiar a inovação e ampliar o acesso em comunidades carentes.
- Certificação internacional de habilidades com alternativas flexíveis e acessíveis.
- Investimento estratégico em tecnologias de aprendizado com foco na acessibilidade.
Preparando-se para o futuro do trabalho
Preparar-se para o futuro do trabalho exigirá uma reimaginação audaciosa de como educamos e capacitamos a força de trabalho global.
Os custos da inação – estagnação econômica e desigualdade social – são altos demais para serem ignorados.
Se adotarmos soluções inovadoras e inclusivas hoje, poderemos desencadear uma economia global mais próspera, equitativa e sustentável para as próximas gerações.
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