Durante alguns meses de 2017, circulou o rumor de que Sam Altman planejava concorrer ao cargo de governador da Califórnia. Em vez disso, ele manteve seu trabalho como um dos investidores e empresários mais influentes do Vale do Silício.
Mas agora, Altman está prestes a ter uma estreia política diferente.
Altman, CEO e cofundador da OpenAI, a empresa de inteligência artificial (IA) responsável pelo chatbot viral ChatGPT e pelo gerador de imagens Dall-E, testemunhará perante o Congresso nesta terça-feira. Seu depoimento faz parte de uma audiência de uma subcomissão do Senado sobre os riscos que a inteligência artificial representa para a sociedade e as garantias necessárias para essa tecnologia.
Também é esperado que legisladores de ambos os lados da Câmara dos Representantes participem de um jantar com Altman nesta segunda-feira à noite, segundo diversos relatos. Diz-se que dezenas de legisladores planejam comparecer, e um legislador republicano descreveu o evento como parte do processo para que o Congresso avalie “o extraordinário potencial e a ameaça sem precedentes que a inteligência artificial representa para a humanidade”.
No início deste mês, Altman foi um dos vários CEOs de tecnologia que se reuniram com a vice-presidente Kamala Harris e, brevemente, com o presidente Joe Biden como parte dos esforços da Casa Branca para enfatizar a importância do desenvolvimento ético e responsável da inteligência artificial.
A audiência e os encontros ocorrem em um momento em que o ChatGPT desencadeou uma nova corrida armamentista em torno da inteligência artificial. Uma lista crescente de empresas de tecnologia lançou novas ferramentas de IA nos últimos meses, com o potencial de mudar a forma como trabalhamos, compramos e interagimos entre nós. Mas essas mesmas ferramentas também despertaram críticas de alguns dos maiores nomes da tecnologia por seu potencial de perturbar milhões de empregos, espalhar desinformação e perpetuar preconceitos.
Como CEO da OpenAI, Altman, talvez mais do que qualquer outra figura, tornou-se o rosto de uma nova geração de produtos potencializados por inteligência artificial capazes de gerar imagens e textos em resposta às instruções dos usuários. O depoimento desta semana pode consolidar seu papel como protagonista do rápido crescimento da IA e aumentar o escrutínio sobre ele e sua empresa.
Quem conhece Altman o descreve como um pensador brilhante, alguém que faz apostas premonitórias e até já foi chamado de “um Yoda das startups”. Em entrevistas realizadas este ano, Altman se apresentou como alguém consciente dos riscos que a IA representa e até mesmo “um pouco assustado” com a tecnologia. Ele e sua empresa se comprometeram a avançar com responsabilidade.
“Se alguém sabe para onde isso vai, esse alguém é o Sam”, escreveu Brian Chesky, CEO da Airbnb, em uma publicação sobre Altman por ocasião da inclusão deste último na lista da TIME das 100 pessoas mais influentes do ano.
“Mas Sam também sabe que não tem todas as respostas. Ele costuma dizer: ‘O que você acha? Talvez eu esteja errado.’ Graças a Deus, alguém com tanto poder tem tanta humildade.”
Outros querem que Altman e a OpenAI avancem com mais cautela. Elon Musk, que ajudou a fundar a OpenAI antes de se desligar do grupo, juntou-se a dezenas de líderes tecnológicos, professores e pesquisadores na assinatura de uma carta pedindo que laboratórios de inteligência artificial como a OpenAI interrompam o treinamento dos sistemas de IA mais potentes por pelo menos seis meses, citando “riscos profundos para a sociedade e a humanidade”.
Altman reconheceu concordar com partes da carta. “Acho que avançar com cautela e com rigor cada vez maior nas questões de segurança é realmente importante”, disse Altman em um evento no mês passado. “A carta, no entanto, não me pareceu a forma ideal de tratar do assunto.”
A OpenAI recusou uma entrevista para esta matéria.
O próximo Bill Gates:
O sucesso do ChatGPT pode ter atraído mais atenção pública sobre Altman, mas ele é uma figura muito conhecida no Vale do Silício há anos.
Antes de cofundar a OpenAI com Musk em 2015, Altman, natural do Missouri, estudou ciência da computação na Universidade de Stanford, mas abandonou o curso para lançar a Loopt, um aplicativo que ajudava os usuários a compartilhar suas localizações com amigos e obter cupons para negócios locais.
Em 2005, a Loopt fez parte da primeira leva de empresas da Y Combinator, uma prestigiada aceleradora tecnológica. Paul Graham, cofundador da Y Combinator, descreveu Altman mais tarde como “um cara muito incomum”.
“Depois de três minutos conversando com ele, lembro que pensei: ‘Ah, é assim que o Bill Gates devia ser aos 19 anos’”, escreveu Graham em uma publicação de 2006.
A Loopt foi adquirida em 2012 por cerca de US$ 43 milhões. Dois anos depois, Altman sucedeu Graham como presidente da Y Combinator. O cargo permitiu que Altman se conectasse com inúmeras figuras poderosas da tecnologia. Ele permaneceu à frente da aceleradora até 2019.
Margaret O’Mara, historiadora da tecnologia e professora da Universidade de Washington, disse à CNN que Altman “há muito tempo é admirado como um sujeito reflexivo e relevante, e faz parte do número notavelmente pequeno de pessoas poderosas que estão no topo da tecnologia e exercem muita influência”.
Durante o governo Trump, Altman ganhou nova atenção como crítico vocal do presidente. Nesse contexto, houve rumores de que ele considerava concorrer ao cargo de governador da Califórnia.
No entanto, em vez de se candidatar, Altman procurou apoiar candidatos que se alinhassem com seus valores, que incluem redução do custo de vida, energia limpa e redirecionar 10% do orçamento de defesa para pesquisa e desenvolvimento de tecnologias futuras.
Altman continua promovendo alguns desses objetivos por meio de seu trabalho no setor privado. Ele investiu na Helion, uma empresa de pesquisa em fusão nuclear que, na semana passada, assinou um acordo com a Microsoft para fornecer energia limpa à gigante tecnológica em 2028.
Altman também tem defendido a ideia de uma renda básica universal e sugeriu que a IA poderia algum dia ajudar a atingir esse objetivo, gerando tanta riqueza que poderia ser redistribuída à população.
Como disse Graham à revista The New Yorker sobre Altman em 2016: “Acho que o objetivo dele é fazer todo o futuro”.
Uma sensação de IA da noite para o dia que vem sendo construída há anos:
Ao fundar a OpenAI, a missão original de Musk e Altman era se antecipar ao medo de que a IA pudesse prejudicar as pessoas e a sociedade.
“Debatemos sobre qual seria a melhor forma de garantir um bom futuro”, disse Musk ao jornal The New York Times sobre uma conversa com Altman e outros antes da criação da empresa. “Poderíamos ficar à margem ou promover supervisão regulatória, ou poderíamos nos envolver com a estrutura certa, com pessoas que se preocupam profundamente em desenvolver inteligência artificial de forma segura e benéfica para a humanidade.”
Em uma entrevista durante o lançamento da OpenAI, Altman explicou a empresa como sua maneira de tentar direcionar o rumo da tecnologia de IA. “Durmo melhor sabendo que agora posso ter alguma influência”, afirmou.
Se há algo em que entusiastas e críticos da IA concordam atualmente, é que Altman claramente conseguiu exercer certa influência sobre essa tecnologia em rápida evolução.
Menos de seis meses após o lançamento do ChatGPT, ele se tornou um nome conhecido, quase sinônimo da própria inteligência artificial. CEOs o utilizam para redigir e-mails. Corretores de imóveis o usam para criar postagens e documentos legais. A ferramenta já passou em exames de faculdades de Direito e Administração, e foi usada por alguns estudantes para colar. A OpenAI acabou de lançar uma versão mais potente da tecnologia que sustenta o ChatGPT.
Gigantes tecnológicos como Google e Facebook agora correm para alcançá-lo. Uma tecnologia de IA generativa semelhante está rapidamente sendo incorporada a ferramentas de produtividade e busca usadas por bilhões de pessoas.
Um futuro que antes parecia distante agora parece estar logo ali, esteja a sociedade preparada ou não. O próprio Altman declarou não ter certeza de como isso vai terminar.
O’Mara acredita que Altman se encaixa na “escola de pensamento tecno-otimista que há muito domina [o Vale do Silício]”, que ela descreve como “a ideia de que podemos criar uma tecnologia que torne o mundo um lugar melhor”.
Embora as observações cautelosas de Altman sobre a IA possam parecer contrárias a essa forma de pensar, O’Mara sustenta que isso pode ser uma “extensão” da mesma. Em essência, ela diz, está relacionada com “a ideia de que a tecnologia é transformadora e pode sê-lo de maneira positiva, mas também tem tanto poder para fazer tantas coisas que, na verdade, pode ser perigosa”.
E se a IA, de alguma forma, ajudar a provocar o fim da sociedade como a conhecemos, Altman pode estar mais preparado que a maioria para se adaptar.
“Eu me preparo para sobreviver”, disse ele em um perfil de 2016 na revista The New Yorker, mencionando vários possíveis cenários de desastre, incluindo “Inteligência Artificial nos atacando”.
“Tento não pensar muito nisso”, disse Altman. “Mas tenho armas, ouro, iodeto de potássio, antibióticos, baterias, água, máscaras de gás das Forças de Defesa de Israel e um grande terreno em Big Sur para onde posso voar.”
– Brian Fung, da CNN, contribuiu para esta reportagem.
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