Tendências tecnológicas 2025Tendencias tecnológicas 2025

Autor: Raúl Limón

Jornalista espanhol especializado em ciência e tecnologia. Licenciado em Ciências da Informação pela Universidade Complutense de Madrid e mestre em Jornalismo Digital pela Universidade Autónoma de Madrid, complementou a sua formação nos Estados Unidos. Atualmente é editor da seção Ciência do jornal El País.

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31 Dez, 2024

31 Dez, 2024

Começa uma nova era. Os desenvolvimentos tecnológicos mais promissores, como redes neurais e a subsequente inteligência artificial (IA) generativa, computação quântica, supercomputadores, robótica e a digitalização do mundo físico, até agora se mantinham em áreas mais ou menos isoladas, seguindo suas próprias trajetórias. Mas chegou o momento da união desses avanços em ecossistemas amplos. “Nos próximos cinco anos, veremos a convergência de todas as tecnologias em escala”, alerta Stephen Ibaraki, fundador da AI For Good. A IA deixa de ser a protagonista singular para se tornar uma coadjuvante no novo cenário.

Rev Lebaredian, vice-presidente de Omniverso e Tecnologia de Simulação da gigante da computação Nvidia, acredita que um dos objetivos dessa convergência serão os robôs humanóides, que ele considera “o próximo grande salto da humanidade” graças à inteligência artificial (IA) baseada em grandes modelos de linguagem, fornecendo o cérebro que faltava à máquina. Roberto Romero, tecnólogo criativo da equipe Accenture Song, após passar por empresas como Oculus, Sony e HTC, acredita que a manifestação dessa união de tecnologias será o metaverso, “a internet do futuro”, como ele define. Esse espaço digital combinará o virtual e o físico, com relações reais e dinâmicas, interconectado a todos os dispositivos, com capacidade econômica e social real e um usuário com identidade digital. Esses são os avanços que, neste ano, darão início a essa nova era:

Cibersegurança. As ruas deixaram de ser o principal cenário do crime. Mais de 25% dos delitos ocorrem na internet, desde sequestros e extorsões até violência sexual. Todas as empresas de cibersegurança concordam que a incidência desses crimes continuará crescendo no próximo ano.

Nataly Kremer, diretora de produto da Check Point Software, prevê um “aumento exponencial na sofisticação dos ciberataques”, exigindo a adoção de tecnologias avançadas para combatê-los. De acordo com dados da Check Point Research, os ciberataques aumentaram 75% globalmente no terceiro trimestre de 2024, impulsionados pela inteligência artificial.

“As ameaças não se limitarão ao ransomware [sequestro de dados e sistemas seguido de extorsão]. O crescimento da Internet das Coisas (IoT), com 32 bilhões de dispositivos previstos para 2025, segundo a Morefield, ampliará a superfície de ataque”, adverte Kremer.

A especialista em cibersegurança vê a IA como “uma arma de dois gumes, pois melhorará tanto os ataques quanto as defesas”. Para os cibercriminosos, facilita a criação de ameaças mais precisas e eficazes para operações em larga escala com menos recursos. No entanto, para os responsáveis pelos centros de operações de segurança (SOC), essa ferramenta ajuda “a priorizar riscos, reduzir falsos positivos e detectar padrões anômalos mais rapidamente”.

Conectividade e dispositivos móveis. “Espera-se um futuro empolgante, pois os provedores de serviços de comunicação estão se preparando para uma transformação da indústria móvel”, afirma Fredrik Jejdling, vice-presidente e chefe de redes, no Relatório de Mobilidade da Ericsson. “A jornada da inovação já começou”, acrescenta. Ele se refere à popularização das redes 5G, que, globalmente, exceto na China, ainda alcança apenas 30%. “Mas o uso crescente da IA generativa em dispositivos móveis, permitindo a criação de conteúdo hiperpersonalizado em grande escala, pode impactar os volumes e as características do tráfego de dados móveis no futuro”, explica.

E após o 5G, começa a próxima geração de conectividade, o 6G, a porta para o metaverso. “As capacidades do 6G permitirão tornar realidade a visão de se mover livremente no mundo ciberfísico, construindo uma ponte crítica entre o mundo dos sentidos, ações e experiências e a representação digital programável do mundo físico”, destaca Jejdling.

Nova realidade. O mundo ciberfísico inclui a realidade aumentada e a realidade virtual, bem como os gêmeos digitais. Será possível projetar objetos digitais sobre objetos físicos e gerar uma realidade mista. Esse avanço permitirá chamadas holográficas, em que uma pessoa será representada digitalmente dentro de um ambiente físico, e inúmeros sensores integrados nesse ambiente atualizarão e garantirão a representação digital em tempo real. Ibaraki chama a atenção para os últimos óculos da Meta. Podem parecer apenas mais um dispositivo, mas libertar o desenvolvimento das novas realidades digitais dos óculos volumosos e com fios para assimilá-los a um acessório comum é um salto qualitativo.

Inteligência artificial e agentes. A IA será incorporada em todos os dispositivos, não apenas em celulares e computadores. Ela aspira a se tornar um agente, um assistente permanente, uma plataforma capaz de dialogar como um humano, analisar documentos (texto, imagens ou vídeos) em diferentes domínios, oferecer respostas e soluções complexas e executá-las em nome do usuário. Segundo Sam Altman, CEO da OpenAI, trata-se de “um colega competente que sabe absolutamente tudo sobre toda a minha vida, cada e-mail, cada conversa que já tive e que estará presente em todas as ações”. No entanto, o crescimento do uso da IA não foi o esperado este ano, e as empresas esperam que seu grande avanço ocorra no próximo ano.

Dados e internet das coisas. O tráfego de dados da rede móvel cresceu 21% no ano passado, atingindo uma média mensal de 157 exabytes (157 bilhões de gigabytes). O principal impulsionador é o consumo de vídeo, que representa 74% do tráfego. A tecnologia luta para manter essa capacidade e busca maneiras mais sustentáveis de gerenciar esse crescimento. Além do setor de entretenimento, os dispositivos conectados, englobados sob o termo internet das coisas, já representam 7% do tráfego e continuarão crescendo.

Drones. Os drones já não se limitam a pequenos quadricópteros com baterias de curto alcance. Agora, eles são fundamentais para tarefas de vigilância, buscas, resgates, guerra e entrega de suprimentos de emergência. Os avanços na tecnologia, nos sensores e a redução de custos indicam um novo crescimento desses dispositivos, apesar do fracasso em seu uso como ferramenta de entrega comercial, que ainda segue em fase de testes.

Jay Stanley, analista da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), alerta sobre um perigo à MIT Technology Review: “Se houver uma acumulação de diferentes usos dessa tecnologia, acabaremos em um mundo onde, desde o momento em que você sai de casa, se sentirá constantemente vigiado do céu. Isso pode ter alguns benefícios reais, mas também exige urgentemente controles e equilíbrios sólidos.”

Chips: O coração de todos esses avanços são os materiais semicondutores que contêm os múltiplos circuitos integrados que os fazem funcionar. O uso da inteligência artificial disparou sua demanda e as exigências por novas capacidades. Governos, gigantes tecnológicos e empresas emergentes estão competindo por um lugar de destaque nessa indústria. TSMC e Intel, dois dos maiores fabricantes de chips do mundo, estão construindo gigantescas fábricas com subsídios diretos e incentivos financeiros do governo dos EUA que ultrapassam os 26 bilhões de dólares. O Japão investirá 13 bilhões, a Índia, 15 bilhões, e a Europa, mais de 47 bilhões para tentar alcançar a soberania em um mercado dominado pela China. O objetivo dos novos desenvolvimentos é aumentar a potência ao mesmo tempo em que se melhora a eficiência energética.

Empresas como Amazon, Microsoft e Google vêm desenvolvendo seus próprios semicondutores há anos para evitar a dependência de fabricantes estrangeiros ou da Nvidia, um gigante que domina grande parte do mercado de chips para treinamento de IA e possui um valor de mercado superior ao PIB de 183 países.

Imagens, deepfakes e desinformação. No final de 2022, surgiram os primeiros modelos capazes de transformar texto em vídeo. Empresas como Meta, Google e a startup Runway apresentaram resultados que, à época, pareciam modestos. Um ano e meio depois, a OpenAI lançou o Sora, seguido por avanços de Google, Runway, Midjourney e Stability AI, entre outras. Hoje, essas tecnologias já são capazes de criar filmes completos.

No entanto, essas ferramentas criativas também foram amplamente utilizadas para a geração de deepfakes, imagens hiper-realistas que inundaram a internet com propaganda e pornografia não consentida. Esse problema, que se tornou global, continuará a crescer neste ano, especialmente porque o vídeo é o meio mais consumido na internet, com plataformas como YouTube e TikTok sendo os principais vetores dessa disseminação.

Além disso, a desinformação online continuará sendo uma das principais ameaças às sociedades e aos sistemas democráticos. “Estamos substituindo a confiança pela desconfiança, a confusão, o medo e o ódio. Uma sociedade sem uma base sólida de verdade se desintegra”, alerta à MIT Technology Review Michal Pechoucek, executivo da Gen Digital, empresa responsável por marcas de segurança digital como Norton e Avast.

John Wissinger, líder de inovação e estratégia na Blackbird AI, monitora desinformação de baixa tecnologia, como postagens que usam imagens reais fora de contexto. “As tecnologias generativas pioram a situação, mas o problema das pessoas enganando, intencionalmente ou não, não é novo”, afirma. Para combater isso, a Blackbird desenvolveu o Compass, uma ferramenta de verificação de artigos e postagens em redes sociais. Pesquisadores do MIT e da Universidade de Cornell também criaram um chat de inteligência artificial treinado para refutar teorias da conspiração e fake news (Debunkbot.com).

Carros autônomos. Apesar dos incidentes e das regulamentações, os projetos de veículos sem motorista continuam avançando. Manuel Carranza García, professor e doutor do Departamento de Linguagens e Sistemas de Computação da Universidade de Sevilha, defende que “suas vantagens são tão evidentes que é quase impossível renunciar a eles”. “Na China, já estão circulando. No momento, parece que a questão é mais legislativa do que tecnológica. Os desenvolvimentos já existem; terão falhas, assim como os humanos, e isso também deve ser tratado por meio de regulamentação. Mas os riscos da condução autônoma são muito menores que suas vantagens”, explica Carranza.

Robôs. A corrida por essa tecnologia está nas mãos de cerca de vinte empresas, como 1X Technologies (com participação da OpenAI), Apptronik, Agility Robotics, Figure (com investimentos de Jeff Bezos, OpenAI e Nvidia) e Boston Dynamics, entre outras. Rev Lebaredian defende que a parte mecânica dos robôs humanoides já está praticamente resolvida e que o mercado impulsionará a redução de seus custos, como ocorreu com outros dispositivos. “Agora temos a tecnologia para construir esses robôs físicos e reduzir seu preço para alguns milhares de dólares”, explica.

O que ainda faltava surgiu há uma década, quando a programação, segundo Lebaredian, “deixou de criar apenas ferramentas para desenvolver habilidades e inteligência”. “É uma nova revolução”, afirma. O grupo de Lerrel Pinto, da Universidade de Nova York, está desenvolvendo técnicas que permitem aos robôs aprender por tentativa e erro, gerando seus próprios dados de treinamento à medida que avançam.

Supercomputação clássica e quântica. Um dos desenvolvimentos em ascensão que evidenciam a convergência tecnológica é a proliferação de gêmeos digitais. Criar, testar e modificar uma realidade física futura sem precisar construir protótipos é essencial para diversas indústrias e para a modelagem de sistemas complexos.

O maior projeto nesse campo envolve o supercomputador Mare Nostrum, do Barcelona Supercomputing Center, cujo objetivo é criar um gêmeo digital da Terra para entender melhor o planeta e prever catástrofes. Já o Frontier, do Oak Ridge National Laboratory, está sendo usado para desenvolver uma versão digital da Via Láctea. “Se todas as pessoas da Terra fizessem um cálculo por segundo, levaríamos quatro anos para igualar o que esse supercomputador pode fazer em apenas um segundo”, explica Jack Dongarra, cientista da computação da Universidade do Tennessee.

No entanto, para compreender fenômenos naturais complexos, como o movimento caótico dos fluidos ou os mapas das conexões neurais, esses supercomputadores precisarão de computação quântica. Microsoft, IBM e Google anunciarão no próximo ano novos computadores e avanços importantes nessa área. O objetivo é alcançar processadores quânticos com mais qubits, maior tempo de vida útil e tolerância a falhas, aspectos fundamentais para complementar os grandes supercomputadores clássicos.

Baterias. O caminho que se inicia no próximo ano, com o foco na eletrificação em massa, exige baterias mais eficientes, duráveis e baratas. As baterias de íons de lítio, utilizadas há décadas em notebooks, celulares, veículos elétricos e armazenamento de energia, precisarão ser substituídas por sistemas mais avançados. As pesquisas do próximo ano estarão concentradas em alternativas promissoras, como as baterias de estado sólido, de íon-sódio e de ferro-ar, que prometem maior capacidade, recarga mais rápida e custos reduzidos.

Autor: Raúl Limón

Autor: Raúl Limón

Jornalista espanhol especializado em ciência e tecnologia. Licenciado em Ciências da Informação pela Universidade Complutense de Madrid e mestre em Jornalismo Digital pela Universidade Autónoma de Madrid, complementou a sua formação nos Estados Unidos. Atualmente é editor da seção Ciência do jornal El País.

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